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quarta-feira, 23 de setembro de 2009

E que amores não são risíveis?


Após ler o mais famoso romance de Milan Kundera, A Insustentável Leveza do Ser, teve início a minha insaciável gana por leituras do autor tcheco. Embora eu me encontre aqui para fazer uma breve descrição e opinar a respeito de sua última obra que li, Risíveis Amores, é irresistível não fazer (novamente) uma pequena digressão e não citar também O Livro do Riso e do Esquecimento. Não, não quero me gabar e tampouco levar Kundera para o TCC e as especializações eternas. Quero, apenas, que os apreciadores de tão fascinante autor mergulhem nos intertextos e complementações que se refletem nas três obras. O dualismo peso-leveza, as excentricidades individuais e o retrato de curiosas relações humanas se fazem presente sempre de maneira a causar calafrios – de tão real sensação, de tão perfeita descrição de sentimentos.

Risíveis Amores, escrito entre 1960 e 1968, é dividido em sete partes. Em todas as narrativas, o amor aparece como protagonista, cedendo lugar, ao desenrolar da narrativa, à excentricidade humana e ao cômico – são personagens que entram em jogos hipócritas do tipo ‘vou fazer de conta que não sinto e que não vejo’ e acabam se expondo ao absurdo, ao ridículo, ou, então, deparando-se com a própria imagem diante do espelho, agora sem máscaras e vestes que possam descaracterizá-los. Mas, afinal, quantas são as relações que fogem a esse ciclo, que insiste em nos trazer de volta à nossa solidão? Talvez seja, principalmente, por essas aproximações sensoriais e pela maneira de encaixar perfeitamente as palavras que Kundera surpreende mais uma vez e nos deixa em estado reflexivo.

Obra absolutamente recomendada e capaz de tornar-se ainda mais rica com as leituras (complementares) de A Insustentável Leveza do Ser e o O Livro do Riso e do Esquecimento – a ordem de manuseio torna-se irrelevante nesse caso.

Uma boa leitura a quem for se aventurar nas indecifráveis entranhas do amor!


5 comentários:

  1. Esse é, provavelmente, meu autor preferido, ou então o que mais me influencia, tanto faz. A densidade da escrita de Kundera é tamanha que não há como não pensar que ele desceu o mais fundo que pôde na natureza humana e voltou incólume ou pelo menos com o fardo de escrever tão bem a respeito de... nós mesmos.

    Roubei este livro da minha mãe. Nele havia uma dedicatória do meu pai, datando de 89. 5...6 anos depois vieram a se separar. É um belo livro.

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  2. "Eu trouxe essas rosas porque estou feliz por você existir (...). Talvez eu a ame. Talvez eu a ame muito. Mas é sem dúvida uma razão a mais pra ficarmos nisso. Acho que um homem e uma mulher se amam mais quando não vivem juntos e quando sabem um do outro apenas uma coisa: que existem e que ficam reconhecidos um ao outro porque existem e porque sabem que existem. E isso basta para que sejam felizes. Obrigado, obrigado por você existir."
    Risíveis Amores

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  3. caláte, Layde! eu tenho essa parte selecionada como uma das prefes!

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. "Ah!, pensava ela, embora sendo o que sou agora, não vivi inutilmente se um pouco de minha juventude continua vivendo na memória desse homem; e ela pensou em seguida que ali estava uma nova confirmação de sua convicção: todo valor do homem está ligado a essa faculdade de se superar, de existir além de si mesmo, de existir no outro para o outro."

    Risíveis Amores - Milan Kundera
    Que os velhos mortos cedam lugar aos novos mortos.

    ...

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